O café esfriou.
Não acho que o sabor das lágrimas
fosse dar um bom paladar,
ou que o café fosse demasiado espesso
para o nó da garganta empurrar.
A saudade não passa,
talvez se arrume por momentos
numa gaveta regularmente aberta,
e por mais cansaço que haja
fico desperta,
por mais cafés que não beba,
sinto-me sem sono.
Sofri um roubo
de coisas que não te faziam falta.
A minha alegria,
o meu objetivo,
o ânimo,
a coragem.
Roubaste-mos e atiraste a um cerrado,
e anoiteceu, e eu ainda à procura.
E choveu, trovejou e fui da raiva à loucura.
Que de nada serviu,
então cruzei os braços
deixo as coisas arrefecer,
volto a aquecê-las,
quando não as estrago,
na esperança de mais tarde apetecer,
mas quando a mente está cheia engana o estômago.
O café ferveu.
O fumo que sai é quente
e faz imaginar o quão escaldante ele deve estar.
E faz recordar a nossa história,
onde gargalhadas ecoam,
quentes como o simples vapor,
que é uma sombra do café
forte e vulcânico
que era o nosso amor.
E eu fico a olhar,
a tentar reparar no que mudou,
porque esfriou,
e é simples a resposta:
O tempo, a temperatura,
a falta de ações calorosas o levaram.
Talvez não a falta das minhas, mas das tuas.
Ou o excesso das minhas e a falta das nossas.
Esfriar não é morrer.
Ainda se pode aquecer,
coar algum bixo que tenha caído,
e provar se ainda pode ser bebido.
E se ainda pode ser vivido,
que seja aquecido sempre antes de morno.
Que seja o teu e o meu coração um bom forno,
uma lareira incansável,
uma salamandra inflamável.
E que não eu mas nós,
ponhamos lenha regularmente,
e bebamos uma bebida quente
juntos no sofá, com o mesmo objetivo em mente.
terça-feira, 3 de abril de 2018
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A saudade é um transporte
ResponderEliminarao encontro e muitas vezes
pode ser a possibilidade de
reencontro deste
sentir vivo do amor! ...
Apreciei muito o seu poema
e este seu espaço.
Grata pela sua visita e comentário
no meu blog e esta oportunidade
de conhecer o seu!
Volto para debulhar as tuas palavras, os teus poemas, a tua semântica. E encontro este belo poema, tão bem construído. Nele passos e ânsias percorrem um itinerário do "café", bela alegoria para o coração "caçador"....
ResponderEliminarOlá, Verânia
ResponderEliminarGostei das suas palavras e dos sentimentos que nelas transmite.
Muitas vezes tenho saudade do que já vivi mas, especialmente, daquilo que eu não vivi e que acho deveria ter vivido. E então, de vez em quando, parece que há um pequeno estilete aí a massacrar. Enfim, coisas do coração.
Estou a segui-la, embora não apareça a imagem. Não sei porquê.
Abraço
Olinda
Há muitas coisas que esfriam que, com o tempo, voltam a aquecer.
ResponderEliminarOutras, não. Neste caso, o melhor é deitar fora o café e fazer outro...
Magnífico poema, gostei imenso. Parabéns pelo teu talento.
Bom fim de semana, amiga Verânia.
Beijo.
Gostei de conhecer o blog. Grato!
ResponderEliminarBfs
Olhar d'Ouro - bLoG
Olhar d'Ouro - fAcEbOOk
Olá Verânia,
ResponderEliminarAlguns relacionamentos esfriam rápido,
igual café...Aquecê-lo
novamente não o fará tão
maravilhoso como antes!
Bonito texto!
Um poema magoado, Verânia. Mas muito belo!
ResponderEliminarUma boa semana.
Um beijo.
Sempre se pode reaquecer algo que foi belo... mas só vale a pena, se for a dois! Gostei do blog, Verânia; muito bom! Boa semana.
ResponderEliminarUm belo poema Venânia.Sensibilidade à flor da pele. Parabéns, obrigada pela visita, gostei de conhecer seu espaço.
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