quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Pura maldade


Ver-te afastar é doentio,
ver-te diminuir no meu campo de visão,
fugir para perto da distância
negra do frio
que abana o coração
e atiça a ânsia
de chorar como se fosse definitivo.
Um adeus não tem nada de positivo,
nem mesmo o facto de ainda se estar vivo.
Eu invejo os mortos!
Invejo a paz e tranquilidade,
a falta de conhecimentos,
a abundância de ignorância.

Viver é pura maldade.
Ver outros partir,
não poder sair,
não poder agarrar.
É deixar que nos arranquem o coração sem anestesia.
Não lutar, não espernear.
Assistir e aplaudir a própria morte.

E o que seria feito da minha herança:
O amor que tenho para dar?
Não pode servir para as minhocas engordar.
Leva-o, conserva enquanto durar.
É de qualidade, então deve dar para uns anos,
que ele faça o que eu não fiz,
que diga o que eu não disse,
mas que não invente o que eu não sou.
Que te ajude a continuar feliz,
e te lembre que eu até sou,
mas não como quis.
Tenho que juntar os pedaços
para ter algo inteiro,
mas sempre desfaço-os,
deixo cair o tinteiro,
borro os rascunhos de felicidade,
e estrago o dinheiro,
que já era pura falsidade.
Mas vou guardar-te muito bem,
onde mesmo que transplantem não estarás lá.
Pensei e queria que durasse para sempre,
por mais que tente,
talvez seja um para sempre com pausas a mais.
Não deixes pausar quando vais,
da realidade sais
e voltas à ficção.
É pura maldade,
não sei se sabes,
mas pode dar pena de prisão,
deixar uma ferida num puro coração.

1 comentário:

  1. Um poema intenso. O amor vem e vai, mas a vida continua...
    Uma boa semana.
    Beijos.

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