quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Coleção

Deve ter sido o vento
que me empurrou para ti.
Não dei por nada,
acordei e já te conhecia.

Só mais uma bolacha dizias,
mas o pacote foi mesmo só o que sobrou.
Só mais um dia,
dizias,
mas passavam-se meses
e eu à espera.

Numa eterna espera,
eterno jogo de paciência,
eu tentei pensar que havia uma justificação,
tem de haver uma razão,
nunca seria assim sem ser por alguma emergência.

Fizeste de mim doutorada
na arte de apreciar a dor.
Fizeste de mim bofetada
dada ao som de um filme de terror.

A realidade é a dura visibilidade
é a dura ausência,
a certa indiferença.

Fui coleccionando.
Mesmo sem aperceber,
coleccionei insónias olhando o ecrã,
o máximo dos teus nãos,
no máximo dos meus serões,
em eterna espera vã.

Coleccionando
toda a mínima esperança,
me focando num incerto amanhã,
e fiz de todo o sorriso dado
um sim declarado,
mas foi eterna espera vã.

Não sei porque me espanto.
Afinal tudo faz parte do mesmo canto,
já cantado outrora.
Mas a Saga continua.

3 comentários:

  1. A solidão da ausência, num poema sofrido...
    Um ano de 2015 muito melhor.
    Beijo.

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  2. Boa noite, Verânia! Um poema dorido e que emociona. A partir dos versos do ... Ecrã... Você simplesmente estrondosa, feito uma rosa põe-se a tender ao sabor do vento que assim como expande seu perfume, pode vir a despetalar por sua impetuosidade. Amei seu poema.

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