O que será isto?

Tenho demasiada sede para beber,
tenho muita fome, portanto vou jejuar,
tenho força para vencer,
mas odeio ver-te chorar,
portanto, hoje vais ganhar,
portanto, hoje vou-me calar,
pois tenho voz tão saudável
que me apetece ser muda,
tenho vida tão invejável
que me apetece ser defunta,
tenho tanto medo de cair,
que atiro-me de cabeça,
tenho medo de fugir,
mas corro sem que o perigo me meça.
Corro mas não sei onde me levo.
Corro de quem? E para quê?
Sinto a trovoada em relevo
e sinto as trevas que ninguêm crê
e estou tão cansada
que até acelero a corrida,
e ouço a feia canção
da chuva ácida que me queima as feridas,
e o vento, tão fraco, que me tira do chão.