sábado, 12 de dezembro de 2009

Fundo escuro

Não consigo ver o termómetro a olho nú,
mas creio que estou muito doente
e tomo aspirina mesmo sem certeza,
sei que o culpado és tu,
que me fazes estar tão contente
que morro de tristeza.

Entro no carro,
fico quieta agarrando um braço
e enquanto fumas teu charro
preparo-me para morrer,
mas não há espaço
para mais morte em mim!
Sei, te importas em fazer-me sofrer,
sempre que meu coração parece bater,
aguardo o fim
com um princípio impaciente
de te ver sorrir,
de te ver contente.

Julgo ser imortal,
deve ser a razão
que me mantenha viva
depois de todo o mal,
toda a mágoa antiga
que não foi em vão,
foram lições gratis,
extra-curriculares,
e enquanto bebo anis
ouço os falares
da tua garganta
que nada diz,
logo nada ouço,
mas no fundo sou feliz
neste fundo escuro de poço!

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